Quero
falar sobre a piedade popular, dos perigos a que ela está sujeita, dos
sacramentais, e por fim, do perigo de transformar a piedade popular e os
sacramentais em uma palhaçada sagrada. Pois, observando, as atitudes de não poucos
cristãos católicos e evangélicos, como também, de certos líderes religiosos,
fico atônito vendo com quanta facilidade e rapidez a piedade popular e os
sacramentais se confundem com a superstição.
Para compreender tudo isso, antes de mais
nada, o meu respeitável leitor precisa saber; O que é piedade popular?
A piedade popular ou religiosidade popular que, além das orações, cantos,
festas, abrange também: gestos, objetos, símbolos e bênçãos, podemos considerar
como um verdadeiro tesouro do povo de Deus. Mas, nem sempre, estas práticas tem
as suas raízes na revelação cristã, na Bíblia. A piedade popular, pode correr o
perigo de tornar-se um conjunto das superstições, se ignorar a importância
salvífica de Ressurreição de Cristo, a pertença à Igreja, a importância do
Espírito Santo, a convicção da absoluta soberania de Jesus Cristo, o contato
direto com a Sagrada Escritura, a vivência da vida sacramental, e da Palavra de
Deus. A falta desses elementos na religiosidade popular pode levar as pessoas,
ou líderes religiosos, à utilização de sinais, gestos, objetos, bênçãos,
fórmulas e festas, à procura do espetacular, e em casos extremos, levar até
mesmo à superstição, à magia, ao fatalismo e à charlatanismo.
A
piedade popular é a interpretação e vivência popular dos mistérios da nossa
salvação, então, devemos respeitá-la, pois, é o nosso patrimônio cultural e
espiritual; mas quando ela ultrapassa limites e transforma-se numa simples
superstição ou magia, precisa ser, pacientemente, “evangelizada”, ou seja,
alimentada com a palavra do Evangelho, para libertá-la dos seus defeitos,
desvios e, assim, ser purificada.
Agora:
O
que são os sacramentais?. A Igreja católica tem sete sacramentos, a saber:
o Batismo, a Crisma, a Eucaristia, o Matrimônio, a Reconciliação, a Unção dos
Enfermos e a Ordenação Sacerdotal,
instituídos por Cristo ao longo da sua vida pública. Além disso, há os
sacramentais, instituídos pela Igreja e não pelo Cristo. São sinais e gestos
sagrados que, têm certo parentesco com os sacramentos. Desde a antiguidade,
costuma-se na Igreja benzer pessoas, água, lugares, alimentos, objetos,
exorcizar e consagrar. Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à
maneira dos Sacramentos, mas pela oração da Igreja preparam para receber a graça
e ajudam a cooperar com ela. Os sacramentais, então, não salvam, pois, só Jesus
é Salvador. Água benta, por exemplo, que é um sacramental, não salvou ainda a
ninguém. Ela, apenas, lembra o nosso batismo, e esse é o significado correto
dela, ela nos prepara para receber a bênção maior que vem de Deus, desde que
haja conversão e a vivencia da fé. A bênção da casa com água benta não
significa que o Senhor com a sua proteção estará aí. Pois, se não houver a
conversão da família, adesão dos membros da família a Deus e à sua Palavra, se
não houver a mudança do comportamento, aí não adianta jogar nem “carro- pipa de
água benta”. O Senhor, sim, nos abençoa, mas Ele quer a nossa colaboração,
adesão e conversão. Há católicos e evangélicos que, caem na tentação de procurar
uma salvação barata, uma solução imediata de seus problemas, e começam a
divinizar as bênçãos e consagrações, atribuindo a elas os poderes
extraordinários e mágicos, transformando-as em uma magia. A piedade popular e os sacramentais andam de
mãos dadas, mas não podem ser divinizados.
De
vez em quando, assisto na televisão aos cultos em algumas igrejas
neopentecostais que temos no Brasil, e me assusto com tamanha palhaçada “sagrada” em algumas delas.
Há uma igreja, com programa diário na TV que, durante os seus cultos, distribui
para as pessoas: azeite consagrado, para temperar a salada e assim espantar o
demônio da casa; martelo consagrado, para, ao bater com ele em casa, acabar com
a injustiça; pente consagrado, para, ao pentear-se, atrair as bênçãos; caneta
consagrada, para fechar grandes negócios; chave consagrada, para abrir bom
negócio; talco de amor, para se casar; celular consagrado, para ouvir sempre as
boas noticias; perfume de amor, para apimentar o relacionamento conjugal; rosa
branca, para abençoar a casa; perfume de maravilhas, para atrair as bênçãos;
sabonete consagrado, para se banhar de graças, vassouras consagradas, para
varrer o mal da casa, etc., etc. Os cultos se transformam em verdadeiras seções
de PALHAÇADA “SAGRADA!” e comércio "sagrado".
As pessoas induzidas pelos líderes cegos e gananciosos caem na
tentação e descarregam a sua confiança em objetos, em vez de, no Senhor. Há,
também, outra igreja por aí, onde as mulheres, desconfiando da fidelidade do
marido, levam a roupa íntima dele junto com a roupa de cama, para serem
exorcizadas. O pastor coloca tudo no altar improvisado e expulsa o demônio da
infidelidade da cueca do marido. Um circo sagrado desses, (piedosamente chamado
de “exorcismo”) eu já vi, também, numa das igrejas católicas, aqui, no Rio de
Janeiro. Há também adeptos da macumba sagrada na Igreja Católica. Basta entrar
numa igreja para, logo na entrada, encontrar inúmeras correntes de orações com
as fitas que garantem milagres, curas e libertações. É uma vergonha, como diria Boris Casoy, e eu,
como padre, repito: é uma macumba sagrada dentro da casa do Senhor!
Meu amável leitor! O que importa na nossa vida cristã é a fé, a
conversão diária, a nossa entrega a Deus. Não são os objetos, nem mesmo os
sacramentais que nos salvam, mas somente Cristo, cujo nome é Jesus, que
significa, Deus salva. Para nós, católicos, as bênçãos, as consagrações, as
orações, ladainhas, novenas, trezenas, procissões, a água benta, e tantos
outros sacramentais, não têm poder de comprar o céu, mas são, apenas, ponteiros
que apontam para Deus. Não podemos negar da interferência sobrenatural de Deus
na vida das pessoas através deles, porém, como cristãos devemos ter a
consciência da absoluta soberania de Jesus Cristo e do seu mistério. Sem dúvida, nós precisamos deles, mas, quando
todas estas coisas se tornam meios para “comprar o céu” e garantem, cá para
nós, a salvação, merecem a critica e a
condenação.
Pe. Paulo Kowalczyk, sac
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