segunda-feira, 9 de julho de 2018

A vocação do leigo na Igreja e em São Vicente Pallotti


O que significa ser leigo? Estudando os documentos de fundação da UAC (União do Apostolado Católico) escritos na sua maioria por São Vicente Pallotti a definição de leigo que cheguei foi ser membro do povo de Deus. Essa definição vem de encontro com a etimologia do termo “leigo” que é uma transcrição da palavra grega “laikós” que por sua vez deriva da palavra “laós” palavra que tem o significado amplo de povo. Leigo, portanto, significa no seu significado primeiro e original “alguém do povo”. Considerando a Igreja como Povo de Deus, como ela é apresentada no Catecismo da Igreja Católica nº 781ss, podemos concluir que todo leigo é membro do Povo de Deus, “Laós tou Theou”. 

Ser leigo, portanto, “é o elemento comum de todos na Igreja”, pelo fato de todos sermos batizados. Os ministérios específicos que os membros do povo de Deus assumem no seio da Igreja vêm se agregar com a sua condição de batizado leigo. O Concílio Ecumênico Vaticano II ultrapassa anteriores interpretações prevalentemente negativas ao afirmar a plena pertença dos fiéis leigos à Igreja e ao seu mistério e a índole peculiar da sua vocação, a qual tem como específico “procurar o Reino de Deus tratando das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus” (Constituição dogmatica sobre a Igreja Lumen gentium, 31). 

Qual é a vocação do leigo? A exortação apostólica pós-sinodal Christifideles Laici de São João Paulo II reafirma no nº 2 §4, o que disseram os padres do Concilio chamando os fiéis leigos a trabalharem na vinha do Senhor: “O sagrado Concílio pede instantemente no Senhor a todos os leigos que respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz de Cristo, que nesta hora os convida com maior insistência, e ao impulso do Espírito Santo. De modo particular os mais novos tomem como dirigido a si próprios este chamamento e recebam-no com alegria e magnanimidade. Com efeito, é o próprio Senhor que, por meio deste sagrado Concílio, mais uma vez convida todos os leigos a que se unam a Ele cada vez mais intimamente, e, sentindo como próprio o que é d'Ele (cf. Fil 2, 5), se associem à Sua missão salvadora. Ele quem de novo os envia a todas as cidades e lugares aonde Ele há de chegar (cf. Lc 10, 1)” (Decreto sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 33). A vocação dos leigos é assumindo a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo como a sua vida colaborar ativamente na Sua obra de salvação. É interessante destacar duas ideias importantes que o Concílio traz e que se assemelha bastante com a visão de São Vicente Pallotti: a primeira que todos são chamados e enviados como trabalhadores na vinha; a segunda, que se trata de um chamado e de um envio feitos pelo próprio Senhor, o que vale dizer que o apostolado, a missão evangelizadora, é um direito e um dever de todos pelo fato de chamados e de enviados pelo Senhor. 

São Vicente Pallotti não se preocupa em descrever o que é ser leigo e diferencia-lo das outras vocações. Ele prefere tratar todos os membros da UAC, seja clero ou leigo, como cristão e despertar nos membros o ser cristão, donde, decorre o dever e também o direito de todos ao Apostolado Católico. A concepção de Pallotti de que todos os cristãos são chamados a serem apóstolos é parte fundamental do carisma palotino. 

Como os leigos pode exercer seu apostolado? Na exortação pós-sinodal Christifideles Laici é apresentada a missão do leigo diante de uma sociedade cada vez mais secularizada e laicizada. É resaltado a tarefa do leigo de levar o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo não só com palavras, mas também e principalmente com o exemplo de vida cristã. Vem de encontro a esta visão do pós Vaticano II, a Obra do Apostolado Católico que na sua atividade apostólica dá testemunho de Cristo a todos os homens e assim busca com todos os meios ao seu alcance a salvação eterna de toda a humanidade. Para Pallotti os leigos são chamados a colocar todos os dons, meios e profissões a serviço do Apostolado Católico. Todos, na respectiva posição, condição ou estado, podem de uma ou outra forma, mas sempre com mérito, exercer na sua vida cotidiana o apostolado de Jesus Cristo. Porque todos podem rezar e mais, tem o dever de rezar, pois esta é a característica fundamental e distintiva de todo palotino, a vida de oração, para dar fecundidade ao seu apostolado. Todos podem edificar religiosamente o próximo com seu bom exemplo e, com efeito, todos podem na sua família e fora dela, nas suas conversas, no namoro, na faculdade ou na escola, na pastoral paroquial, no seu trabalho, no seu lazer e em todos os momentos do seu dia dar testemunho com ou sem palavras de sua fé para salvação eterna dos seus familiares, parentes, amigos e companheiros.

Irmão Elson Carvalho, SAC

Um comentário:

  1. Excelente. Texto profundamente fundamentado no Magistério, cuidadosamente citando-os. Muito elucidativo.
    Deus abençoe

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