Um só
rebanho sob um só Pastor:
a dimensão ecumênica do carisma palotino
Nos escritos
de nosso Fundador, é recorrente, como um refrão, o seu desejo de ver um só
rebanho sob um só Pastor. Em suas orações, esta expectativa se traduzia em
palavras de súplica constante e em seu apostolado, como iniciativa e também
como finalidade, São Vicente Pallotti trabalhava para ver o dia no qual todos
estariam sob a régia autoridade do Pastor, o Vigário de Cristo, o Santo Padre.
Tudo ao seu alcance ele fazia, ele realizava, para que as conversões
acontecessem e os ímpios, os hereges, os cismáticos... e qualquer outro se
voltasse à Deus, e se rendesse aos ensinos da Igreja Católica e à obediência ao
Sumo Pontífice.
E não era
poderia ser diferente, pois naquela época, e fundamentalmente naquela Roma sob
o governo temporal do Santo Padre, toda a teologia, espiritualidade e vivência
cristãs eram compreendidas tendo nítida referência ao Sumo Pontífice. E
portanto, o refrão repetidamente evocado por Pallotti não era jamais compreendido
para além desta que era a realidade eclesial e social em que vivia: todos
deveriam se unir ao rebanho católico, que por sua vez, era regido sob o único
Pastor, o Sumo Pontífice, o Vigário de Cristo.
Mas a
teologia é orgânica, uma ciência viva na qual se permite que o estudioso
aprofunde a reflexão e novas nuances vão sendo reveladas, daquela que é a toda
Verdade Revelada. Alias, o próprio Senhor Jesus anunciou o Espírito Paráclito
para levar-nos ao conhecimento da Verdade toda inteira (cf. Jo 16, 13). Por
tanto, proclamar que temos a Verdade e que cremos nesta Verdade não é o mesmo
que dizer que compreendemos totalmente esta Verdade! Esta compreensão da
Verdade Revelada, aos poucos, pela reflexão teológica, vai se descortinando ao
longo da história.
E por isso,
foi o Concílio Vaticano II quem permitiu alargar mais a compreensão daquele
refrão ‘um só rebanho sob um só Pastor’. Nas entrelinhas dos vários documentos,
o Concílio vai recolocando em seu devido lugar a compreensão daquela máxima: o
Pastor é o Cristo, o Único, o Senhor, de um rebanho enorme, composto de todos
os que O seguem, que são discípulos seus, os cristãos e aqueles que, não o
seguindo, têm reta intenção e vivem o que é correto em suas vidas. Em
documentos importantes ele coloca a Igreja toda em uma situação de diálogo e de
abertura ao outro religioso. São os casos dos documentos conciliares Orientalium Ecclesiarum (às Igrejas
Orientais Católicas) e Nostra Aetate
(as Relações da Igreja com as Religiões não-cristãs) e Dignitatis Humanae (a liberdade religiosa à luz da Revelação). Sem
contar ainda, com o documento Unitatis
Redintegratio, que visa dar pistas para um caminho ecumênico, passos para a
unidade dos cristãos.
Sim, o
Concílio Vaticano II alargou a compreensão da máxima “um só rebanho e um só
Pastor” que Pallotti tanto amava e desejava e ansiava. Poderíamos então
afirmar, baseando-se no amor que o Santo tinha pela Igreja – ele, num compasso
com Ela; ele, num bate-cuore com Ela – que também ele, hoje, trabalharia nesta
mesma direção: um só rebanho de homens e mulheres de bem, sob o Senhorio do
Único Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo! Desta feita, hoje, reconhece-se a
importância de um palotino enveredar pelos caminhos da Unidade entre Cristãos e
o diálogo Inter-Religioso. Não poderíamos fugir desta dimensão; não poderíamos
nos calar diante deste mundo plural ou num grito solitário, fechados em nossos
conceitos e critérios, pensar que todos deveriam ser como nós. A compreensão da
diversidade apostólica, o Apostolado Universal, o Apostolado Católico, intuição
tão original e tão preciosa de São Vicente Pallotti, indiscutivelmente replica
na beleza da diversidade religiosa, que à base do diálogo fraterno e sincero,
vai se ajuntando em um só rebanho, regido sob os ensinamentos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, o Único Pastor.
Pe. Daniel Luz Rocchetti SAC
Reitor do Seminário Maior Palotino-RJ
Reitor do Seminário Maior Palotino-RJ
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