terça-feira, 11 de março de 2014

A dimensão ecumênica do carisma palotino | Pe. Daniel Luz Rocchetti SAC

Um só rebanho sob um só Pastor:
a dimensão ecumênica do carisma palotino

Nos escritos de nosso Fundador, é recorrente, como um refrão, o seu desejo de ver um só rebanho sob um só Pastor. Em suas orações, esta expectativa se traduzia em palavras de súplica constante e em seu apostolado, como iniciativa e também como finalidade, São Vicente Pallotti trabalhava para ver o dia no qual todos estariam sob a régia autoridade do Pastor, o Vigário de Cristo, o Santo Padre. Tudo ao seu alcance ele fazia, ele realizava, para que as conversões acontecessem e os ímpios, os hereges, os cismáticos... e qualquer outro se voltasse à Deus, e se rendesse aos ensinos da Igreja Católica e à obediência ao Sumo Pontífice.
 
E não era poderia ser diferente, pois naquela época, e fundamentalmente naquela Roma sob o governo temporal do Santo Padre, toda a teologia, espiritualidade e vivência cristãs eram compreendidas tendo nítida referência ao Sumo Pontífice. E portanto, o refrão repetidamente evocado por Pallotti não era jamais compreendido para além desta que era a realidade eclesial e social em que vivia: todos deveriam se unir ao rebanho católico, que por sua vez, era regido sob o único Pastor, o Sumo Pontífice, o Vigário de Cristo. 
Mas a teologia é orgânica, uma ciência viva na qual se permite que o estudioso aprofunde a reflexão e novas nuances vão sendo reveladas, daquela que é a toda Verdade Revelada. Alias, o próprio Senhor Jesus anunciou o Espírito Paráclito para levar-nos ao conhecimento da Verdade toda inteira (cf. Jo 16, 13). Por tanto, proclamar que temos a Verdade e que cremos nesta Verdade não é o mesmo que dizer que compreendemos totalmente esta Verdade! Esta compreensão da Verdade Revelada, aos poucos, pela reflexão teológica, vai se descortinando ao longo da história.
 


E por isso, foi o Concílio Vaticano II quem permitiu alargar mais a compreensão daquele refrão ‘um só rebanho sob um só Pastor’. Nas entrelinhas dos vários documentos, o Concílio vai recolocando em seu devido lugar a compreensão daquela máxima: o Pastor é o Cristo, o Único, o Senhor, de um rebanho enorme, composto de todos os que O seguem, que são discípulos seus, os cristãos e aqueles que, não o seguindo, têm reta intenção e vivem o que é correto em suas vidas. Em documentos importantes ele coloca a Igreja toda em uma situação de diálogo e de abertura ao outro religioso. São os casos dos documentos conciliares Orientalium Ecclesiarum (às Igrejas Orientais Católicas) e Nostra Aetate (as Relações da Igreja com as Religiões não-cristãs) e Dignitatis Humanae (a liberdade religiosa à luz da Revelação). Sem contar ainda, com o documento Unitatis Redintegratio, que visa dar pistas para um caminho ecumênico, passos para a unidade dos cristãos.
Sim, o Concílio Vaticano II alargou a compreensão da máxima “um só rebanho e um só Pastor” que Pallotti tanto amava e desejava e ansiava. Poderíamos então afirmar, baseando-se no amor que o Santo tinha pela Igreja – ele, num compasso com Ela; ele, num bate-cuore com Ela – que também ele, hoje, trabalharia nesta mesma direção: um só rebanho de homens e mulheres de bem, sob o Senhorio do Único Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo! Desta feita, hoje, reconhece-se a importância de um palotino enveredar pelos caminhos da Unidade entre Cristãos e o diálogo Inter-Religioso. Não poderíamos fugir desta dimensão; não poderíamos nos calar diante deste mundo plural ou num grito solitário, fechados em nossos conceitos e critérios, pensar que todos deveriam ser como nós. A compreensão da diversidade apostólica, o Apostolado Universal, o Apostolado Católico, intuição tão original e tão preciosa de São Vicente Pallotti, indiscutivelmente replica na beleza da diversidade religiosa, que à base do diálogo fraterno e sincero, vai se ajuntando em um só rebanho, regido sob os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Único Pastor.
Pe. Daniel Luz Rocchetti SAC 
Reitor do Seminário Maior Palotino-RJ

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