Na origem da União do Apostolado Católico, uma Associação Missionária
Pe. Francisco Todisco, “La missionarietà in San Vincenzo Pallotti”, palestra proferida no Encontro anual de Formação para Missionários e Missionárias Palotinos, em Roma – Itália, em Maio de 2009.
(Tradução livre do original em italiano)
Padre Vicente Pallotti deixou duas histórias diferentes sobre a origem da União. A primeira, nós a poderíamos chamá-la como versão externa, oficial e, em certo senso, jurídica, pois se limita a uma sucessão de eventos; já a segunda, poderíamos chamá-la como versão espiritual, ou até mesmo, carismática. Ambas têm elementos comuns, mas entre elas, existem mudanças de interpretação e de sucessão de datas, ou seja, muda-se o tempo dos eventos da fundação.
1. A Primeira História
A primeira versão dos fatos que registram a fundação é aquela seguida por quase todos os biógrafos:
- no dia 9 de janeiro de 1835, depois da celebração da Santa Missa, durante o Oitavário da Epifania, Pe. Vicente recebe a inspiração da União do Apostolado Católico, mas a mantêm em segredo;
- alguns seus colaboradores, naquele mesmo mês, decidem estampar o livro Máximas Eternas, de Santo Afonso Maria de Ligório, em língua árabe, para enviar ao oriente; para isso, consultam a gráfica da Propaganda Fide sobre o custo;
- Giacomo Salvati recolhe inesperadamente uma soma relevante (cerca de 400 escudos); e tudo isto teria acontecido antes do fim de março de 1835;
- os colaboradores sugeriram criar um grupo responsável para a gestão das esmolas recolhidas;
- Pe. Vicente, então, institui a União do Apostolado Católico, segundo a inspiração de 09 de janeiro de 1835;
- portanto, se seguem as aprovações, primeiro aquelas diocesanas de 04 de abril e de 29 de maio de 1835 e depois, aquela pontifícia, datada no dia 11 de julho de 1835.
Nesta versão histórica tudo, ou quase tudo, teria acontecido depois daquela celebre iluminação palotina do dia 09 de janeiro de 1835.
2. A Segunda História
A segunda história, aquela mais espiritual e carismática, está registrada em um texto de setembro de 1840, conhecido pelo título “Na minha morte”, posterior de quase seis anos daqueles fatos iniciais e que ficou desconhecido por muito tempo. Neste texto, Pe. Vicente declara aos seus coirmãos que o inicio da União do Apostolado Católico estaria lá pelo ano 1834: “Nosso Senhor Jesus Cristo se dignou fazer-me pertencer à Sociedade do Apostolado Católico desde seu início... No ano 1834, privadamente, no início, junto com alguns poucos: assim, em 1835 foi aprovada com um primeiro documento do Eminentíssimo Senhor Cardeal Vigário”. A União, que neste texto sucessivo à aprovação e à supressão da parte do Santo Padre, ele chama de Sociedade do Apostolado Católico, teria existido primeiro como grupo privado já em 1834 e aprovada somente em 1835. E se assim fosse, a coleta de Salvati e as conversas sobre a conveniência em criar um grupo responsável pelas esmolas e a gestão dos fundos para ajudar as missões teria acontecido em 1834. No dia 09 de janeiro de 1835 teria acontecido a inspiração divina para iluminar e mover Pe. Vicente a fundar uma associação de Apostolado Católico, ou seja, universal. Ele assim o fez, estendendo o objetivo da inspiração, pouco a pouco, em sucessivos textos, à associação missionária apenas fundada que, por sua vez, foi acolhendo tais comunicações.
Nesta segunda história, a sucessão de eventos seria a seguinte:
- alguns colaboradores de Pe. Vicente, em 1834, se propõem ajudar as missões com a estampa das Máximas Eternas em árabe, para enviar aos países do oriente; eles consultam a tipografia de Propaganda Fide sobre o custo e Salvati faz uma coleta;
- acha-se conveniente criar oficialmente um grupo responsável pelas ofertas recolhidas para as missões;
- em 09 de janeiro de 1835 acontece aquela inspiração divina, quando então, Pe. Vicente funda uma associação de Apostolado Católico Universal;
- acontece uma comunicação do fato espiritual, e uma sucessiva aceitação da parte do grupo;
- acontecem as aprovações, primeiramente aquelas diocesanas de 04 de abril e de 29 de maio de 1835, e aquela outra, pontifícia, em 11 de julho do mesmo ano.
As diferenças fundamentais entre a primeira e a segunda história são as datas (o tempo cronológico) e o papel da inspiração. Naquela primeira história a inspiração precede e é a raiz de toda a fundação; na segunda, a inspiração é o que qualifica, dando forma eclesial à uma realidade humana pré-existente. Hoje se é propenso em considerar mais provável aquela segunda cronologia, não somente porque o próprio Pe. Vicente nos informou, mas também porque deixa um maior tempo e espaço para as ideias, para as propostas e para a realização das mesmas; e ao contrário, naquela primeira cronologia os eventos parecem suceder-se muito rapidamente.
A nova associação, provavelmente sem um nome ao início, decidiu recolher esmolas não somente para as missões mas também para ajudar na formação de futuros missionários entre não-cristãos, os heréticos e os cismáticos. Tal escopo coincidia, neste primeiro momento, com as várias iniciativas pró-missões que floresciam em toda a Europa, como a Obra de Propagação da Fé de Lião, ou aquela de Paris e ainda aquela outra, a Missionsvereine, nascida em países de língua tedesca. Também, muito provavelmente esta primeira intenção de trabalhos pró-missão do grupo nascente tenha acontecido sob a influência de conversas com Alkusci ou deste e Rafael Mélia juntos. Em definitivo, o objetivo da nova associação, se ao início era em favor da Igreja Caldeia, agora tal escopo se abria a horizontes mais amplos; mas sempre em vista as missões. Assim, um primeiro passo foi o projeto de estampar as Máximas Eternas em árabe e enviar tal edição ao Oriente Médio. A tipografia de Propaganda Fide foi consultada sobre o custo, Salvati recolheu os 400 escudos e, para evitar qualquer suspeito, o grupo não deixou sob a administração de um só, mas se constituiu oficialmente.
No entanto, no dia 09 de janeiro de 1835 Pe. Vicente recebeu aquela inspiração, mantendo-a em segredo, esperando um sinal de Deus para que a revelasse e a concretizasse. É muito provável que no final de março daquele ano Pallotti partilhou com o novo grupo que, por sua vez, acolheu a nova proposta convertendo-se de um grupo que recolhe esmolas para as missões e para os seminários missionários em União do Apostolado Católico. Nesta segunda hipótese, a ideia de Pe. Vicente não teria sido atribuída somente a si, mas a todo o grupo: assim, não seria somente um ato de humildade de Pallotti, o não reconhecer-se o único fundador da obra, mas seria mesmo uma verdade histórica.
Enfim, a origem exclusivamente missionária da União influenciou o desenvolvimento inicial do grupo, depois Pallotti, passo depois de passo, foi estendendo o campo de ação à toda a Igreja. Em ambas as cronologias é bem claro que o início da União do Apostolado Católico foi a missão, foi a missionariedade: propagar a fé católica e consagrar-se também em reavivá-la e a reascender a caridade entre os católicos.
Texto da Inspiração / 09 de janeiro de 1835
“Deus meu misericórdia minha, Vós em vossa Infinita misericórdia me concedeu, em modo particular, promover, estabelecer, propagar, aperfeiçoar, perpetuar, ao menos com o mais vivo desejo de vosso SS. Coração 1. uma pia instituição de Apostolado Universal em todos os Católicos para propagar a Fé e a Religião de J. C. entre todos os Infiéis, não Católicos. 2. de Apostolado oculto para reavivar, conservar, e acrescentar a Fé entre os Católicos. 3. uma instituição de Caridade universal no exercício de todas as Obras de Misericórdia espirituais, e corporais, para que Vós sejais conhecido no homem; já que Vós sois Caridade infinita. Confesso, porém, agora e sempre, diante de Vós, meu Deus, e de toda a Corte Celeste, e a todas as Criaturas passadas, presentes, e futuras, que se até hoje ainda não se promoveu uma tal multíplice Instituição, esta não foi possível por minha culpa, pois não me terias negado as graças, se as pedisse. Hoje, mesmo indisposto e sempre mais indisposto, e indigno espero; ou melhor, estou certo de que chegou o momento de um distinto Triunfo da vossa Misericórdia sobre a minha indisposição, e indignidade. Deus Deus Deus – Misericórdia, Misericórdia – Graças!”
OOCC X, 196-197.
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