domingo, 18 de março de 2018

Um sacerdote é ‘outro Cristo’!


Em nossa casa de formação, num programa que nos cadencia mensalmente, temos um Retiro, qual tempo de silencio e de recolhimento. Desligamo-nos de muita coisa, mesmo que por breve tempo e, usando uma linguagem atual, nos conectamos conosco mesmos, com os irmãos de comunidade e com Nosso Senhor. Este principalmente, pois um retiro é o tempo propício para nos conectarmos com Ele, Senhor e Salvador!

Assim, no dia 04 de março fizemos nosso Retiro Mensal. A comunidade se reuniu para rezar, celebrar, silenciar, partilhar e experimentar de novo a graça, qual água revigorante, que nos permite e sustenta no caminho.

Naquela ocasião, assim como em todas as outras, escolhe-se um tema a ser abordado, ou um texto a ser apresentado. Já que este ano estamos vivendo, ao interno de nossa família palotina o Bicentenário da Ordenação Sacerdotal do Fundador, São Vicente Pallotti, foi justamente o sacerdócio o pano de fundo para nossas reflexões. E por isso, neste contexto sacerdotal, escolheu-se a Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, que é um documento da Congregação para o Clero e que baliza o processo formativo de um sacerdote da Igreja Católica, para iluminar as nossas colocações.

No citado documento, o processo formativo é identificado em etapas que precisam ser assimiladas pelo formando em vista de um objetivo claro. Neste processo formativo, o objetivo final é, pela graça e pelo esforço, uma configuração com Jesus Cristo. De fato, as etapas formativas são assim identificadas: o primeiro ano, propedêutico, é um período de formação inicial; depois, o tempo dos estudos filosóficos é identificado como ‘tempo de discipulado’ e o tempo dos estudos teológicos, é chamado de ‘tempo de configuração’ e por fim, acontece o tempo da síntese, seja ela vocacional como pastoral.

Todo o tempo de formação, portanto – que é inicial enquanto o jovem está numa casa de formação, e que se torna permanente quando o mesmo é ordenado e assume responsabilidades – é um tempo de discipulado em vista da assunção dos traços e características do Mestre... uma verdadeira configuração a Ele. Parafraseando o próprio Nosso Senhor que disse “quem me vê, vê o Pai”, deve-se afirmar do sacerdote: “quem me vê, vê o Cristo”! Deverá ser assim sempre na vida de um padre!

Mas, a qual imagem do Cristo o sacerdote deve configurar-se?

Pois bem, o Cristo é Cabeça da Igreja, e por isso, o sacerdote deve sê-lo também, enquanto chefe, administrador e autoridade. Mas o Cristo é também um Pastor, e por isso o sacerdote deve buscar a destreza e a dedicação típicas de um pastor que é empenhado com seu rebanho. Mais: o Cristo é Servo e por tanto o sacerdote também o é! O Cristo é, ainda, Esposo, como escreve São Paulo em sua carta aos Efésios, e assim, o sacerdote deve ser o esposo que entrega a si mesmo à sua esposa, a Igreja-Comunidade, para cuidá-la e torná-la linda e perfeita.

Mas a imagem a qual o sacerdote deverá sempre buscar configuração, mais do que aquelas ali citadas, é a imagem de Cristo Crucificado.

São Paulo escreve aos Colossenses a partir de sua própria experiência: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja. Dela fui constituído ministro, em virtude da missão que Deus me conferiu de anunciar em vosso favor a realização da palavra de Deus, mistério este que esteve escondido desde a origem às gerações (passadas), mas que agora foi manifestado aos seus santos. A estes quis Deus dar a conhecer a riqueza e glória deste mistério entre os gentios: Cristo em vós, esperança da glória! A Ele é que anunciamos, admoestando todos os homens e instruindo-os em toda a sabedoria, para tornar todo homem perfeito em Cristo. Eis a finalidade do meu trabalho, a razão por que luto auxiliado por sua força que atua poderosamente em mim" (Col 1, 24 – 29).

O sacerdote deve configurar-se ao Cristo, e este Crucificado! Ao sacerdote é pedido, portanto, uma entrega total de si, onde o sacrifício não lhe é estranho, mas algo diário, constante, quase que ordinário... completando em sua própria carne a dor que faltou na dor do corpo de Cristo, lá, crucificado e morto, por si e pela Igreja!

Caros leitores, rezem por nós! Rezem para que sejamos bons sacerdotes no futuro e ser bom, neste caso, é ser crucificado diariamente em pequenos sacrifícios pelo bem da Igreja. Rezem para que aprendamos, desde já, a entregarmos nossos desconfortos e para que Ele, já, vá cinzelando em nós Sua imagem.

Pe. Daniel Luz Rocchetti SAC - Reitor do Seminário Maior Palotino (RJ)

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