quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Discernimento Vocacional

          No dia de hoje, 31 de agosto, último dia do mês considerado das vocações, queremos partilhar um pouco com vocês qual a visão sobre o discernimento vocacional e a verdadeira vocação segundo Pallotti, já encontrado em nossa Ratio Institutionis:
          "A prática do discernimento nasce no Antigo Testamento e se recomenda no Novo Testamento, principalmente em S. Paulo e S. João. O apóstolo João, na sua primeira carta, põe em guarda os cristãos no sentido de que adquiram uma atitude crítica diante das inspirações: “Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito. Examinai primeiro se os espíritos são de Deus” (1Jo 4,1). Nas cartas de S. Paulo encontra-se todo um processo de discernimento da vocação:
          a. Deus dá a certeza da vocação divina: “Quando aprouve àquele que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou por sua graça, para revelar seu Filho em minha pessoa” (Gl 1,15);
          b. Tal chamado deve ser verificado pela comunidade eclesial e pelos seus responsáveis: “Três anos depois, subi a Jerusalém para conhecer Cefas e fiquei com ele quinze dias” (Gl 1,18). Portanto, dentre os critérios, mediante os quais pode-se ter certeza de que uma determinada inspiração provém realmente de Deus, há “o imediatismo de Deus na docilidade eclesial” e “a escuta de Deus na vida pessoal passa necessariamente através da mediação da igreja, na leitura dos sinais dos tempos da sociedade em que se vive”. Aliás, S. Paulo encoraja os Efésios: “Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus” (Ef 5,17). Entre os sinais que confirmam a vontade de Deus temos a experiência: da assim chamada consolação na oração, de um gosto ou então de uma inclinação para as coisas de Deus, e de um desejo de servi-lo na Igreja de Jesus Cristo.
          Se a palavra discernimento significa “provar”, “experimentar”, “examinar”, ela nos introduz na natureza deste período da formação palotina. É preciso um tempo para provar, experimentar ou examinar o candidato à Sociedade:
          a. a ver se, nele, vêm à tona os sinais de uma vocação à vida consagrada na Sociedade do Apostolado Católico;
          b. se existem as condições fundamentais de saúde, capacidade intelectual, espiritual e moral, necessárias para seguir na vida consagrada;
          c. se e quais sejam as circunstâncias que possam tornar difícil o processo;
          d. Se ele é chamado a seguir Jesus, o Apóstolo do Eterno Pai, na Sociedade e na União;
          e. se e qual ajuda a Sociedade possa oferecer ao jovem para ele entender o sentido de sua vida e descobrir a sua vocação de filho de Deus.
           A vocação é um dom de Deus, mas é também um compromisso da pessoa. Pallotti gostava de falar de correspondência à vocação. ("Corresponder com humildade e gratidão ao divino chamado" - OOCC X, p. 584). Pedia perdão a Deus por sua “pouquíssima correspondência à vocação” (OOCC X, p. 582). Julgava que para ser padre era preciso ter uma vocação (“Vou implorar ao Senhor que não permita que eu, ou outros, entrem para o Ministério Eclesiástico se não são chamados, e que aos que nele já estão os santifique, e que torne chamados aos não chamados, e santifique e faça com que correspondam à vocação os verdadeiramente chamados” - OOCC X, p. 562). Ele falava também do “espírito de sacrifício”, que pertence à vocação (“E, como Nosso Senhor Jesus Cristo entrou no mundo, viveu e morreu com o espírito de sacrifício, assim, com maior perfeição que os leigos devem entrar no Santuário com o espírito de sacrifício” – OOXX I, pp. 157-158.) , enumerando os autênticos sinais dela: “verdadeiro talento, índole admiravelmente antecedida pela graça, inclinação decidida pelo Santuário, e... todas as outras qualidades virtuosas e favoráveis, de que se adornam os que dão fundada esperança de poder chegar a ser ótimos operários evangélicos”.


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A vida fraterna – reciprocidade, reconciliação e unidade na caridade

“Irmãos, se alguém for surpreendido numa falta, vós, que sois animados pelo Espírito, admoestai-o em espírito de mansidão. E tem cuidado de ti mesmo, para que não caias também em tentação! Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos, e deste modo cumprireis a lei de Cristo. Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. Cada um examine o seu procedimento. Então poderá gloriar-se do que lhe pertence e não do que pertence a outro.” (Gl 6, 1-4)
            O último capítulo da carta aos Gálatas contém um precioso convite, que se estende as nossas comunidades ainda hoje. Segundo São Paulo devemos corrigir os que erram com mansidão, sem esquecer de ter diante dos olhos, a si mesmo e o barro que fomos feitos (cf. Salmo 102[103], 14). O apóstolo dos gentios convida cada um a cuidar atentamente de si, para que não caiam também aqueles que outrora corrigiam os que erraram. Tal conselho permanece atual para vida de nossas comunidades, a correção fraterna é certamente de suma importância. Porém o modo de fazê-la é a condição para que seu efeito seja de acordo com o esperado. A prática evangélica da correção fraterna sempre foi um eficaz remédio para a vida comunitária, afinal quando caímos nem sempre temos uma visão clara de que erramos.
            Diversas vezes nossas atitudes ferem nossos irmãos sem que percebamos. No entanto a ninguém foi dado, ao menos ordinariamente, o poder de sondar os corações. Por isso se faz necessária uma boa comunicação entre os irmãos. É preciso pontuar com humilde autoridade onde o irmão nos feriu, onde ele pode melhorar para que a comunidade seja sempre uma casa de irmãos. “Em outras palavras, a cooperação e a reciprocidade ou começam em casa ou não começarão nunca” (Ratio Institutionis, 76). A tal reciprocidade também nos adverte nossa Lei suplementar: “Na comunidade os membros se ajudem mutuamente, apreciem uns as qualidades dos outros, acolham-se reciprocamente e alegrem-se com o êxito dos co-irmãos” (LSAC, 257)
            O fato é que, caso não se estabeleça um diálogo sincero após os desagradáveis conflitos comunitários, tendemos a nos fechar. Criamos muros de silêncio e nos encastelamos em nossas razões. Porém esse castelo ilusório é na verdade comoo túmulo fétido e frio de Lázaro morto. No primeiro momento que se fizer necessário remover a pedra, teremos que lidar com estes problemas que estarão em um estado de decomposição ainda pior. Por isso nossa Lei nos convida ao dialogo franco e respeitoso, como meio para que sejam resolvidas eventuais dificuldades. (LSAC, 257).
            O documento A vida fraterna em comunidade no nº26 destaca que “as comunidades, na verdade, não podem evitar todos os conflitos” e que a situação de imperfeição das nossas comunidades não devem nos desencorajar. Visto que a “unidade que devem construir é uma unidade que se estabelece a preço de reconciliação”. Sem o perdão não há meios para que vida comunitária se realize de forma plena. As comunidades que não conseguem exercer a misericórdia, perdoando-se mutuamente, acabam não vivendo “com todo aquele fervor que seria conveniente, motivo pelo qual o rosto da Igreja brilha menos diante” da Igreja e do mundo. (Unitatis Redintegratio, 4)
            O desejo de que a nossa vida comunitária exale o bom odor de Cristo deve preencher nossas casas, e optando pelo testemunho de uma vida em comunidade sadia e fraterna, precisamos necessariamente carregar os fardos uns dos outros, como nos diz São Paulo na carta aos Gálatas. Carregar os fardos uns dos outros implica a reciprocidade no sacrifício pelo bem comum. “Quando alguém se perde pelos irmãos, encontra-se a si mesmo” (A vida fraterna em comunidade, 24). Por isso se faz necessário que cada um suporte com paciência os limites dos outros, pois pelo bem da comunidade outros suportam os nossos limites e misérias que muitas vezes não percebemos. Quantas vezes não somos nós mesmos um peso na vida comunitária, por isso examinemo-nos sempre contando com a graça de Deus. “Se é verdade que a comunhão não existe sem a oblatividade de cada um, é necessário que se afastem desde o início as ilusões de que tudo deve vir dos outros(A vida fraterna em comunidade, 24).
            Aqui se faz atualíssima a exortação de São Paulo aos Colossenses (3,12-13): “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós”. A vida fraterna exige uma profunda reciprocidade, capacidade para o perdoar e uma consciência profunda dos próprios limites. Acima de tudo, a vida comunitária exige o reconhecimento de que o Amor e a Misericórdia de Deus nos alcançaram antes que pensássemos em responder ao seu chamado divino. Não devemos, portanto, nos espantar com as misérias alheias, pois muito mais o Senhor nos perdoa.
            Neste ponto vale perguntar-nos: será que ao verem nossa comunidade as pessoas poderiam dizer o mesmo que foi dito da comunidade Palotina assassinada na Igreja de São Patrício, em Buenos Aires: “juntos viveram, juntos morreram!”? (“Esta parroquia ha sido ungida por el testimonio de quienes vivieron ‘juntos y juntos murieron’” - Homilia do Card. Jorge Mario Bergoglio, sj na Missa pelos 25 anos do massacre. Buenos Aires, 4 de julho de 2001). De fato buscamos a fraterna unidade em nossas comunidades? Certo é que não há comunidade perfeita, a comunidade ideal ainda não existe neste mundo. Porém também é acertada a afirmação de que, a vida fraterna é um “termômetro” da vida espiritual de seus membros, ou seja, a vida comunitária reflete a vida espiritual dos indivíduos que a formam. Por isso precisamos ser construtores e não somente consumidores da comunidade, o ideal comunitário exige de nós a conversão de toda atitude que possa ser obstáculo a graça de Deus e a comunhão fraterna. (A vida fraterna em comunidade, 23-24).
             “A caridade de Cristo nos impele” (2 Cor 5,14) a irmos ao encontro dos irmãos deixando nossas pedras no chão, tomados pela consciência de nossos pecados, certos de que muito mais Deus tem feito por nós. Para que a nossa vida fraterna exale o bom odor de Cristo precisamos nos derramar como o bom perfume aos pés do Senhor, precisamos gastar nossos melhores esforços e nosso precioso tempo com nossos irmãos. Lembrando que ser celibatário implica um parcela de solidão, porém “Deus, nosso Criador, quis que precisássemos uns dos outros para que vivêssemos em unidade uns com os outros [...].Na realidade, se você vive sozinho, vai lavar os pés de quem? De quem vai cuidar? Como é que você vai fazer para se colocar no último lugar se mora sozinho? […] A vida comunitária é, portanto, um estádio no qual nos exercitamos como os atletas, um treinamento que nos faz progredir, um exercício contínuo de aperfeiçoamento nos mandamentos de Deus" (São Basílio Magno).

           




domingo, 13 de agosto de 2017

O dom da paternidade

          Neste domingo, dia 13 de agosto, comemora-se, civilmente, o dia dos pais. E nossa comunidade quer dedicar um pequeno momento para partilhar sobre a questão da paternidade.
          A paternidade é dom de Deus, no qual Ele confia ao homem a educação, no amor. Algum tempo atrás, o dia dos pais era comemorado no dia dedicado a São Joaquim, pai da Virgem Maria. Uma vez que ele era uma figura de paternidade, que ao longo do tempo foi trocado a data por motivos comerciais, e a figura de São Joaquim, destacou-se mais com a função de avô, o que não deixa de ser pai também. Tornando-se, assim, São José o exemplo singular da paternidade.
          São José também está incluso na história da salvação. Deus ao enviar seu Filho ao mundo, pensou e preparou aquele no qual seria o Seu pai adotivo. São José é pai de Jesus Cristo desde do coração de Deus. O Espírito Santo modelou o coração de São José, um coração paterno. Já na concepção de São José, Deus pensou para ele essa missão de ser pai, e mais, ser pai do Filho de Deus. Quão graça teve São José nesta tamanha missão.
          Confiamos a Deus, nossas preces, por intercessão de São José a vida e vocação de nossos pais. O dom da paternidade não se reduz somente a geração da vida, mas sim tornar-se exemplo e canal do amor de Deus. O maior presente que um pai pode dar ao seu filho é uma boa base religiosa. Esses que Deus confiou o dom da paternidade, sintam-se impelidos pelos dons do Espírito Santo para a educação de seus filhos. 
          E neste mesmo espírito, dedicamos um momento àqueles que foram chamados a ser pai de muitos. Homens que foram separados por Deus para serem celibatários, mas não deixando de ser pai. Pai este, não biológico, mas sim espiritual. A paternidade espiritual é dom de Deus no qual educam seus filhos para a vida espiritual. 
          Esses homens que doam sua vida numa profunda intimidade com a Santa Igreja e com ela, geram vidas. Padres que estendem as suas vidas não mais somente a Cristo, mas também à Igreja. Homens que venderam todos os seus bens para comprarem o terreno que possui o tesouro, e tal tesouro não reservam somente para si, mas torna-se disponível cada dia aos demais. A paternidade espiritual é um fiel compromisso e não uma função. Ela não deixa o homem quando se completa as horas de trabalho, mas se perpetua ao longo da sua vida de pastor. O pai espiritual se esforça para edificar-se e assim transbordar a graça de Deus àqueles que Deus o confiou. Como diz São Vicente Pallotti, não podemos ser indiferente à santificação do próximo. O pai espiritual se sacrifica para auxiliar seu filho no crescimento espiritual. O olha como dádiva de Deus e deseja orientá-lo de volta a Ele. Todo sacrifício é válido para conduzir o filho a Deus. E como diria São Paulo, e que repetiu por muitas vezes São Vicente Pallotti: "A caridade de Cristo nos impele". Nada se torna difícil para aquele que ama. 
          Que Deus abençoe todos aqueles que foram confiados esta paternidade espiritual. E cada religioso se sinta impulsionado também a essa graça divina. Permitindo modelar-se pelo Espírito Santo e assim ser verdadeiras pontes que levam seus filhos a Deus. E Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos, nos acompanhe nesta educação espiritual e aproximarmos mais de Deus. 

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

     
          Nesse final de semana, dias 29 e 30 de julho, aconteceu na Paróquia Santa Isabel Rainha de Portugal, em Bento Ribeiro, a 3ª Missão Palotina. O tema da missão desse ano foi "Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?" (Lc 1, 43).
          A missão contou com a participação de crianças, jovens e adultos de várias Paróquias Palotinas, como as de Itaipuaçu, Pendotiba, Itaipu, Vila Valqueire, da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças além dos integrantes da comunidade da Santa Isabel e outras paróquias diocesanas. Os participantes da Missão Palotina, participaram de várias atividades, formação própria para o missionário, seja ela espiritual e prática, a missa de envio, adoração e o momento mais aguardado que era o de visitar as residências.
          Foram visitadas diversas residências nos arredores da Paróquia, onde os missionários, cheio de amor em seus corações e inspirados pelo Espírito Santo, foram ao seio de várias famílias, das mais diversas religiões, levar – a todos que quiseram ouvir – a Boa Nova: que Jesus Cristo vive e ama a todos nós! Findo as atividades da Missão Palotina, no domingo à noite com a Missa de encerramento as 18:30h, aonde compareceram também a este momento pessoas que tiveram suas casas visitadas.
          Os participantes do evento ressaltaram a importância de atividades como essa para que seja reacendido e fortificado o carisma palotino dentro de cada um de nós, que significa crescer em fé e em caridade para com o irmão, sempre buscando o auxílio de Deus no nosso dia-a-dia, da mesma forma que nos ensinava nosso querido São Vicente Pallotti.
          A 4ª Missão Palotina já tem previsão de data e local, sendo escolhida, através do intermédio do Espírito Santo, a comunidade de Itaipuaçu para receber os missionários no mês de julho de 2018.