segunda-feira, 28 de maio de 2018

Do passado, tenho recordações; do futuro, tenho só a esperança do reencontro.


No dia 17 de maio, depois de vários dias de trâmites burocráticos, aconteceu lá em Roma, na Igreja San Salvatore in Onda, o funeral do querido amigo e irmão, Pe. Jean Bertrand Etoundi SAC. 

Sim, um querido e muito próximo amigo... meu irmão de comunidade, que apesar da sua africanidade e de minha latino-americanidade, pelo amor a Jesus, pelo amor a São Vicente Pallotti e pelo amor à missão, ficamos tão próximos... 

Hoje (18/05) me vi paralisado, olhando as fotos daquele momento fúnebre e recordando... sim re-cor-dando, ou seja, dando de novo ao meu coração a graça dos bons sentimentos das experiências vividas juntos. 

Lembro-me de quando ele chegou a Roma e porque eu já estudava naquela que seria também a sua faculdade (ambos fizemos Missiologia na Pontifícia Universidade Urbaniana), fiquei responsável para introduzi-lo no ambiente acadêmico e por vezes, naquele período, ouvia dele o seu descontentamento em fazer aquele curso. Eu tentava persuadi-lo e ele afirmava desejar fazer outra especialização. Alguns dias depois, caminhando juntos para a faculdade, Jean Bertrand virou-se para mim e disse: “Você estava certo, meu amigo, a Missiologia é o meu curso! É o meu curso! Encontrei-me!” E desde então, ele passou a me cumprimentar daquele jeito africano, ou seja, encostando a sua testa na minha: era o sinal de que já não era um estranho, mas ‘um dos seus’... eu, branco como leite, era saudado pelo mais negro dos africanos que conheci... Ele me acolheu em seu mundo e cultura. 

Depois disso, Jean Bertrand fez questão de me levar para conhecer amigos dos Camarões, me fez provar diversas vezes a comida de seu povo e até num jantar oficial da embaixada daquele país ele me levou. E ficou ali, ao meu lado, apresentando-me a pessoas importantes como o seu amigo e irmão missiólogo. Quanta grata lembrança! 

Outra situação que nos aproximou tanto foi quando fomos escolhidos para compormos a Comissão para a Juventude Palotina Mundial. Éramos cinco padres de diversos países. Trabalhamos juntos em alguns projetos e na Jornada Mundial da Juventude aqui no Rio de Janeiro, tive a alegria de recebê-lo em casa e participarmos juntos de diversas atividades daquele grande evento. Desta vez, fui eu quem lhe apresentei meus amigos e tantos sabores brasileiros, como o pão de queijo, o churrasco, o açaí e o guaraná. Quando nos despedimos no aeroporto, ele disse já estar ansioso para me receber lá nos Camarões... Ele agora me receberá nos céus! 

Jean Bertrand, jovem sacerdote palotino e entusiasmado com a vida, logo que defendeu sua tese doutoral em Missiologia foi convidado a assumir o Secretariado das Missões de nossa Sociedade, ao que logo me comunicou, alegremente, pedindo-me ajuda e apoio nos projetos que aquela mente criativa já pensava; poucos anos depois, outro grande acontecimento: fora eleito Conselheiro Geral, compondo o atual governo junto a pessoas importantes de nossa comunidade. Nesta ocasião fui eu quem logo lhe escrevi parabenizando-o e colocando-me em oração por aquela tão grande responsabilidade. 

Enfim, em um texto sobre a morte lido há tempos, o escritor comparava a hora da morte com a hora certa do agricultor colher, no pé, as frutas... Certo: a fruta no pé precisa ser colhida à hora certa, nem cedo demais – o que a renderia sem sabor – nem tarde demais – correndo o risco de apodrecer. O agricultor atento sabe a hora mais doce da fruta para que ela seja colhida e assim, melhor saboreada. De fato, Deus – o Divino Agricultor – nos colhe à hora certa, chamando-nos para si na melhor fase de nossas vidas... Ele não nos chama antes, numa hora que não estaríamos preparados; nem nos colhe depois, correndo o risco de nos perder... 

Jean Bertrand foi colhido na melhor de suas fases, na hora certa de sua doçura e maturidade. Era a sua hora. A hora de Deus em sua vida. Tinha celebrado um dia antes os seus 15 anos de sacerdócio e tinha pedido, na hora da homilia, que seu coração sacerdotal não fosse forjado nos moldes das expectativas humanas, mas nas medidas claras do Coração Sacerdotal de Jesus. Era este o sinal de que já estava pronto! 

Sim, Jean Bertrand, meu amigo africano, de coração e vida missionários, você já foi recolhido no regaço da Divina Misericórdia... era a sua hora, a sua melhor hora... Te peço, meu irmão, que interceda por mim, para que eu, também amadureça e na melhor hora de minha vida, seja colhido e recolhido em Deus. Até logo, meu irmão... (com um toque testa à testa, olhos nos olhos e sorrisos grandes nos lábios).

Pe. Daniel Luz Rocchetti, SAC - Reitor do Seminário Maior Palotino (RJ)  

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Festa da Rainha dos Apóstolos



No último dia 19 (sábado) a Família Palotina celebrou a Festa de sua Padroeira a Rainha dos Apóstolos. Essa festa é celebrada sempre no sábado que antecede a Solenidade de Pentecostes. Como povo de Deus nos unimos em oração, para junto da Virgem Maria implorar a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja e todo o mundo. 

Por volta das 16 h nos reunimos na pequena capela de nossa Casa de Formação, e guiados pela dinâmica e cantos dos jovens da Juventude Palotina rezamos o Santo Terço. No mesmo clima de oração participamos da pregação do amigo do seminário o sr. Carlos, mais conhecido como Belini, que apresentou para nós a Virgem Maria Rainha dos Apóstolos como espelho de virtudes para Igreja. Seguida a esta profunda reflexão fomos introduzidos a participação do Santo Mistério Eucarístico, pelo nosso consagrado Bruno Gonzalez. Com nobre simplicidade celebramos o santo Sacrifício da Missa em Honra de nossa padroeira, presidida pelo Reitor do Seminário Maior Palotino – Padre Daniel Rocchetti SAC. Num ambiente muito familiar se seguiu uma alegre partilha, esta confraternização que só foi possível graças a generosidade de cada um daqueles que estiveram presentes. Após a confraternização, junto dos jovens vocacionados e do grupo da União do Apostolado Católico, demos início a Vigília de Pentecostes. Durante toda a madrugada nos revezamos em momentos de intimidade e oração na presença de Jesus Sacramentado. 
  
Na manhã do domingo a vigília foi concluída com a bênção do Santíssimo, antes da Santa Missa de Pentecostes às 7h30min da manhã. Alguns de nossos paroquianos e vocacionados marcaram presença ao longo da vigília. Permaneceram na presença d’Aquele que "no Santíssimo Sacramento é o meu consolo; se estou doente, Ele é o médico; se eu sou cego, surdo e mudo, Ele é minha luz, meu ouvido, e minha voz; se eu estiver morto, Ele é a minha vida; se estou fora do caminho do Paraíso, Ele é o caminho; se sou pobre, Ele é a minha riqueza" São Vicente Pallotti (OOCC XI, 51-56).

Celebrando o sacerdócio do Santo Fundador

No dia 16 de maio de 2018 os filhos espirituais de São Vicente Pallotti celebraram os 200 anos de sua Ordenação Sacerdotal. E a Família Palotina reunida nesta porção da Igreja presente no Rio de Janeiro também se reuniu para agradecer este dom feito por Deus à Santa Igreja: “O ano do bicentenário da ordenação sacerdotal de Vicente Pallotti é graça do Senhor, para se redescobrir a riqueza espiritual do sacerdócio de Jesus Cristo, segundo a visão do nosso Santo Fundador. Nos nossos dias, mais do que nunca, os sacerdotes se encontram diante de grandes desafios. Procura-se eliminar a presença do sacerdote da vida pública e, às vezes, atingi-lo na sua identidade mais profunda, obscurecendo a sua dimensão divina. Vicente Pallotti nos ensina que o sacerdote é o representante de Deus vivo e o sinal visível da caridade de Cristo” (Pe. Jacob Nampudakam, SAC- Reitor Geral).
A comunidade local dos padres e irmãos Palotinos no Rio de Janeiro se reuniu na capela do Seminário, a convite do Reitor, Pe. Daniel Luz Rocchetti SAC para ali agradecer pelo Sacerdócio de Vicente Pallotti e todos os frutos de sua entrega de vida pelo Povo de Deus. Após a Santa Missa aconteceu um café da manhã festivo, onde partilhamos a vida e os alimentos junto da presença fraterna de nossos sacerdotes. À noite celebramos a Santa Missa no Santuário da Divina Misericórdia junto à comunidade paroquial. Estavam presentes também os postulantes palotinos junto de seu formador Padre Denis Alves Campos, SAC, que presidiu a celebração.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Homilia para a Santa Missa em ocasião dos 200 anos de Ordenação Sacerdotal de São Vicente Pallotti

 
Há 200 anos, na Basílica de São João de Latrão em Roma, era ordenado sacerdote o nosso querido São Vicente Pallotti. Hoje, dia 16 de maio de 2018, distante tantos anos daquele importante dia, todos os palotinos e palotinas espalhados pelo mundo, agradecem a Deus o dom da vida e do ministério sacerdotal deste nosso querido pai. 
Providencialmente as leituras de hoje nos enquadram numa temática sacerdotal. A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos nos conta a despedida de Paulo da comunidade de Éfeso e suas instruções aos anciãos daquela comunidade pois logo após seria preso e condenado. Ele exorta aos anciãos: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho” (At 20, 28). Já o Evangelho nos relata a Oração Sacerdotal de Jesus, na qual Nosso Senhor ora e intercede pelos Seus discípulos de todos os tempos. Desta oração poderíamos até mesmo extrair um trecho e colocá-lo nos lábios de Pallotti, tal qual Jesus disse: “Consagra-os na verdade; a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles, a fim de que eles também sejam consagrados na verdade” (Jo 17, 17-19). De fato, Pallotti buscou a Deus e traçou um caminho de santidade, na verdade e na experiência de misericórdia, por si e por todos os seus, ou seja, por todos nós, palotinos e palotinas. 

Na recorrência desta festividade, o atual Superior Geral, Pe. Jacob Nampudakam SAC escreveu um breve artigo ao jornal oficial da Santa Sé, o L´Osservatore Romano. Neste breve artigo, o Pe. Jacob sublinha a grande ligação existente em Pallotti entre o Sacerdócio e a Eucaristia: de fato, para ele, Pallotti encontrava todo o deleite e toda a sua força ministerial na experiência eucarística. E deveria ser assim também na vida de cada palotino... 

Porém, um detalhe chamou a atenção de muitos leitores deste artigo. Nele, Pe. Jacob escreveu que, das anotações do Fundador pelos dias de sua ordenação sacerdotal, se concluía que o Santo tinha claras as atividades sacerdotais: celebrar a Eucaristia, pregar a Palavra, confessar as pessoas, visitar os doentes... não obstante um padre recém ordenado... Mais tarde - escreve Pe. Jacob - mais precisamente oito anos depois, em 1826, num retiro espiritual, Pallotti reconhece que o Seu sacerdócio era herança do Sacerdócio Eterno de Nosso Senhor Jesus Cristo.  

Vimos aqui, apontado pelo Pe. Geral, que São Vicente Pallotti cresce em seu entendimento sacerdotal; ou melhor, aprofunda-se na compreensão acerca do seu sacerdócio: se numa primeira hora ele estava quase que identificado às tarefas, ao realizar, ao fazer sacerdotal (celebrar, pregar, visitar, confessar), depois de um tempo, numa intimidade profunda, Pallotti reconhece que o seu Ser deveria ser sacerdotal enquanto enxertado em Jesus Cristo Sacerdote, já que o sacerdócio o qual foi investido era o mesmo Eterno e Infinito Sacerdócio de Jesus. 

Pallotti, portanto, compreende que o agir de um padre, tão importante ao ponto de definir e identificar alguém num primeiro momento da vida sacerdotal acaba por ser quase que suplantado por uma clareza e um deslumbre maior do Mistério Divino a que ele foi - e qualquer jovem padre - é constantemente, pela Igreja, revestido: o mistério da ordenação sacerdotal que derrama sobre o ordenado uma graça especial para ser herdeiro e continuador do Infinito e Eterno Sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo, para poder agir, doar-se, viver e morrer como Ele mesmo.   
Caros amigos e irmãos, um padre não se define pelo que ele faz, mesmo que isto seja tão importante e necessário. O fazer não é o que lhe define. O que o caracteriza e define é o que ele é: outro Cristo Sacerdote, que se oferece ao Pai, por Si e pelos outros. Sempre.  


Pe. Daniel Luz Rocchetti, SAC - Reitor do Seminário Maior Palotino (RJ) 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Festa de São Vicente Pallotti em San Giorgio di Cascia 2018



A semana, em que celebramos o 200º aniversário da ordenação sacerdotal de São Vicente Pallotti, começou com a festa de nosso Fundador em San Giorgio di Cascia. A família Palotina se reuniu em 13 de maio de 2018 nesta pequena aldeia da Úmbria (Itália), onde nasceu Pietro Paolo Melchiorre Pallotti, pai de São Vicente Pallotti, para participar de uma solene celebração Eucarística presidida pelo Reitor Geral, Pe. Jacob Nampudakam.

Durante a homilia, ele lembrou que neste dia, em 1981, São João Paulo II sofreu um ataque e foi salvo por Nossa Senhora de Fátima. Depois deste acontecimento, em Zakopane, na Polônia, os palotinos construíram um santuário mariano como agradecimento pela salvação da vida do Papa. Exatamente hoje, este santuário de Nossa Senhora de Fátima tornou-se um santuário nacional. Além disso, ele destacou como foi escrito por São Paulo em sua carta aos Efésios e escutada na segunda leitura da Missa da Festa da Ascensão do Senhor: “foi ele quem instituiu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros ainda como evangelistas, outros, enfim, como pastores e mestres. Assim, ele capacitou os santos para o ministério, para edificar o corpo de Cristo”, é isso que São Vicente Pallotti tentou colocar em prática. Na Igreja, todos somos chamados a realizar a mesma tarefa: construir a Igreja de Jesus, mas cada um em seu próprio estado, cumprindo seus deveres e colocando Deus no centro de sua vida. 

Como de costume, todos participaram da procissão com a imagem e as relíquias de São Vicente Pallotti. Agradecemos ao Pe. Joseph Kiran Madan SAC, aos paroquianos de San Giorgio di Cascia pela recepção e preparação da celebração e ao Padre Giovanni Grappasonni SAC pelo tríduo realizado antes da festa, aprofundando o tema do bicentenário da ordenação sacerdotal de São Vicente Pallotti. A rádio polonesa Pallotti.FM transmitiu a celebração pela web. 

Fonte:https://sac.info/festa-di-san-vincenzo-pallotti-a-san-giorgio-di-cascia-2018/?lang=pt-br#more-107770

domingo, 6 de maio de 2018

O melhor... e o pior de mim


Gostaria de escrever este artigo, como se fosse uma conversa contigo, meu querido leitor. Pudera estarmos juntos, olho a olho, perto... talvez em torno de uma mesa de lanchonete, tomando um açaí e conversando. Mas não é possível estar em todos os lugares para conversar olho a olho com todos os meus leitores de agora; portanto, imagine-se onde melhor gostaria de estar e com as melhores pessoas que gostaria de estar. 

Pois bem, imaginou?

Agora complico a situação e é este o motivo, o coração mesmo deste artigo, que quero escrever/falar/ conversar com você. Faço-te uma pergunta inquietadora, que me fiz recentemente e que tanto me tumultuou aqui dentro: 

As pessoas que estão ao teu redor, estas mesmas que você gosta e as imaginou contigo neste lugar especial, sim, elas mesmas, elas te amam pelo melhor ... e também pelo pior de ti? 

Ufa, um soco, não é? 

Pois é, elas te amam pelo teu melhor... pelo melhor que você é e também pelo pior de você mesmo? 

Respire fundo. Faça um breve exercício: inspire, expire... inspire, expire... inspire, expire... Acalme-se. 

Mas tente responder a si mesmo: quem te ama, te AMA mesmo? E você, ama? Ama realmente?! 

As leituras do 6º Domingo da Páscoa giram em torno da revelação do Amor Divino, que é Deus, como explica João (1 Jo 4,7-10): Deus é Amor! E este Deus-Amor, no Evangelho nos convida a permanecermoss n´Ele (Jo 15,9-17), pois só quando permanecermos no Amor nossa alegria realmente será completa. 

E a quem Deus ama? Ora, na primeira leitura Pedro faz uma profunda experiência desta revelação amorosa de Deus: “Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável” (At 10,25-26.34- 35.44-48). Deus não faz acepção de pessoas. Deus ama. Todos os que O temem e que buscam praticar a justiça, Ele ama. 

Deus não faz acepção de pessoas! Deus ama! E acrescentou São Paulo em sua carta ao Romanos: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores (Rm 5,8)”. Ou seja, Deus nos ama conhecendo o melhor e o pior de nós mesmos. 

Ele nos ama assim, insistentemente. Na pior de nossas versões, Ele demonstrou Seu amor por nós... 

Sabem, meus leitores, somos Cristãos, e como tais, somos convidados a Permanecer no Amor, para experimentá-Lo e sermos n´Ele resgatados e salvos. Mas ainda tem algo importante: como Cristãos, somos convidados a Permanecer no Amor, para sermos capazes de exercê-Lo em nossas relações, amando e experimentando ser amados pelos outros, na melhor e na pior de nossas versões.

Pe. Daniel Luz Rocchetti, SAC - Reitor do Seminário Maior Palotino (RJ)

sexta-feira, 4 de maio de 2018

O sacerdócio e a devoção mariana em São Vicente Pallotti



Na continuidade das reflexões motivadas pelo bicentenário da ordenação sacerdotal de São Vicente Pallotti, vou me deter em um aspecto significativo da vida e da atividade apostólica dele, a saber, a sua filial, terna e apaixonada veneração a Maria Santíssima. “Grande devoto de Nossa Senhora, ele desejava amá-la infinitamente, se fosse possível, dar-Lhe os títulos mais belos, amá-La com o amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Iluminados por este trecho da homilia pronunciada por São João Paulo II, na ocasião em que celebrou a Eucaristia, na Igreja romana de São Salvador da Onda, centro espiritual da fundação palotina, queremos ocupar-nos do ministério sacerdotal de São Vicente Pallotti e sua devoção mariana.

Apoiando-nos nos ombros de gigantes, nós, que somos pequenos, podemos desnudar horizontes mais distantes e amplos, como nos ensina uma famosa e antiga máxima. Nesta breve reflexão, não será diferente. Contudo, muito distante está o nosso esforço da acuidade destes grandes homens, de modo que o ponto de partida se deu com leituras de grandes autores palotinos, como o Pe. João Batista Quaini, SAC, de saudosa memória, Pe. Jacob Nampudakam, SAC, o próprio São Vicente Pallotti e tantos outros grandes sacerdotes e consagrados que, pelos seus escritos e palavras, ajudaram-nos na inspiração e na fundamentação desta pequena contribuição.


São Vicente Pallotti, por meio de seus escritos, ensina-nos que há uma estreita relação entre o reto exercício do ministério sacerdotal e a devoção mariana. Para nosso fundador, Maria era Mãe, Mestra e Advogada, contudo é a imagem de Maria como Mestra da vida espiritual que desempenha um papel fundamental em sua vida sacerdotal. A mestra da escuta, do silêncio e da oração estava ali presente no Cenáculo, como nos recorda o Padre Geral dos palotinos, Jacob Nampudakam. Naquele momento crucial para a Igreja nascente, ela confortou e encorajou os apóstolos que haviam deixado que o desespero e o medo trancassem as portas de seu coração. Trancadas também estavam as portas daquela “sala de cima”, onde eles ainda podiam sentir-se seguros, à sombra da lembrança dos fatos que ali presenciaram.

Em Pentecostes, a Virgem Santíssima, como esposa diletíssima do Espírito Santo, abre as portas dos corações dos Apóstolos, para que estes passem de discípulos amedrontados a pregadores intrépidos da boa nova do Reino! O mesmo deseja ela hoje aos seus filhos prediletos, os presbíteros: “Vede, filhos, o Pregador do Evangelho deve ser como trovão de Deus, que salutarmente comove os corações dos infelizes escravos do pecado” (São Vicente Pallotti – “Mês de Maio para Eclesiásticos”). E aos sacerdotes que se perderam em meio a questionamentos e crises, Pallotti se dirige por meio de Maria, dizendo: “Acaso duvidais da vocação divina? Não fiqueis apavorados, filhos meus! Sabeis bem o que deveis fazer para remediar, mas estais com medo porque nunca vos empenhastes, pra valer, em corrigir-vos? Mesmo assim, alegrai-vos! Pois, agora chegou o tempo, este é o momento! Porque já não tereis coragem de resistir à voz do Pai das Misericórdias e aos remorsos da consciência. Dai-me vosso coração rebelde! Desligai-o de todo laço terreno, que miseravelmente vos levou até agora a resistir à graça e impediu que vos entregásseis inteiramente a Deus, para corrigir todas as desordens” (São Vicente Pallotti – “Mês de Maio para Eclesiásticos”).


Como se vê, é em sua obra o “Mês de maio para os eclesiásticos”, que São Vicente Pallotti melhor expõe os seus ensinamentos sobre a importância da presença de Maria Santíssima na vida sacerdotal. Fazendo-o de forma singular, Vicente Pallotti põe na boca de Maria, a Mãe de todos os sacerdotes, ensinamentos salutares aos que são chamados a tal estado sublime. Todo sacerdote deve, portanto, deixar-se tocar de forma profunda pela devoção à “Mãe de Deus e nossa”. São Vicente Pallotti, de forma muito lúcida e sóbria, esclarece no que consiste a verdadeira devoção à Virgem Maria, a saber: imitar seu Filho Jesus Cristo e dela aprender esta imitação. Por isso, imitar a Maria Santíssima, que é pura transparência de seu Filho, é o melhor modo de imitar a Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, o Apóstolo do Eterno Pai .

O Padre Geral, em seu pequeno livro sobre “O Espírito sacerdotal segundo São Vicente Pallotti”, aponta que, na escola de Maria, o sacerdote deve aprender, como ensina Pallotti: a imitar a obediência da filha amadíssima do Eterno Pai, no cumprimento da sua vocação; a fecundidade espiritual da Mãe do Verbo Encarnado, e assim multiplicar os filhos da Igreja; e a fidelidade da enamoradíssima Esposa do Espírito Santo, em seu sagrado ministério. O Padre Jacob Nampudakam ainda recorda que, aos sacerdotes, a Virgem Maria prometeu proteger e auxiliar em seu ministério, bem como fez na vida de São Vicente, de modo a despertar, nestes mesmos corações sacerdotais, a confiança e a entrega total. Assim, sob a proteção da Rainha dos Apóstolos, alcancem os sacerdotes, por sua intercessão materna, a graça de exercerem um digno ministério, dispostos a dar a vida pela Glória de Deus e a salvação das almas.

José Luiz Alves da Silva Junior, SAC

fonte: https://pallotti.com.br/noticia/bicentenario-da-ordenacao-de-sao-vicente-pallotti/

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Bicentenário da ordenação presbiteral de São Vicente Pallotti


No dia 16 de maio de 2018, celebramos o bicentenário da ordenação presbiteral de São Vicente Pallotti, fundador da União do Apostolado Católico (UAC).

Queremos recordar esta data em que nosso santo recebeu, na Basílica de São João do Latrão, em Roma, o dom do sacerdócio, no grau de presbítero. Este acontecimento oferece uma ocasião para refletir a maneira como Pallotti vivenciou esse ministério e que pode enriquecer a nossa vida espiritual.


Ele viveu o seu ministério sacerdotal em Roma, uma experiência construída sob as pegadas de Jesus Cristo, e suas atividades constituem a nossa herança espiritual. Também é fonte de inspiração para o nosso aprofundamento e renovação do verdadeiro espírito evangélico do sacerdócio. Na primeira metade do século XVIII, reforçou-se o modelo de sacerdote bom pastor, disposto a guiar e a defender as ovelhas desgarradas, num tempo em que as práticas religiosas estavam enfraquecidas.

No seu período de formação sacerdotal, podemos identificar alguns fatores que criaram a sua identidade sacerdotal. Primeiramente, deve-se dizer que ele não frequentou a vida do seminário, mas, durante os seus estudos, permaneceu na casa dos seus familiares. Quanto à sua formação humana e religiosa, teve a influência de várias pessoas, a saber: os seus pais, o confessor Bernardino Fazzini, os mestres dos Escolápios, os professores do Colégio Romano, os diretores dos exercícios espirituais anuais e dos retiros. Dois foram os fatores que incidiram muito na formação sacerdotal e no exercício do seu ministério como padre diocesano. O primeiro foi que a sua formação espiritual se desenvolveu por meio de uma intensa e dedicada vida de oração. O segundo fator refere-se à sua admissão às ordens sagradas com o título de patrimônio, ou seja, nos seus primeiros anos de sacerdócio, morou na casa paterna e, como não estava vinculado a nenhum ofício diocesano, ele podia decidir livremente sobre suas escolhas pastorais.

Vicente Pallotti conservou sempre em sua memória o dia extraordinário da ordenação, ocorrida em 16 de maio de 1818, data que ele mesmo menciona com frequência em seus apontamentos espirituais.

A sua preparação ocorreu por meio dos exercícios espirituais. As celebrações litúrgicas destes dias, a Oitava depois da Ascensão, as solenidades de Pentecostes e da Santíssima Trindade, o estimularam a entrar no grande mistério de Deus Uno e Trino.

Em seus apontamentos espirituais, exprimiu os sentimentos do seu coração de forma simples e com propósitos concretos. Antes de tudo, agradeceu a Deus pelo inestimável dom da vocação e meditou sobre seus deveres como sacerdote. Por isso, pediu ao Senhor a graça de não querer honras, de dar bom exemplo de amor a Deus e ao próximo, de ser sóbrio e vigilante, de ter instrução e ciência necessária, de ser um trabalhador incansável, de viver a perfeição evangélica e de se assemelhar, em tudo, a Jesus Cristo.

Vicente Pallotti empenhou-se, desde o início da sua ordenação sacerdotal, em viver profundamente o seu ministério, com renovado vigor evangélico. Ao interiorizar este novo estilo de vida, ele o fez radicalmente, seguindo a Cristo com uma visão ampliada, para melhor servi-Lo em todas as suas atividades. Segundo ele, a missão do padre estava diretamente ligada  à  caridade e ao cuidado espiritual das pessoas.

Pode-se dizer que quatro foram as obras promovidas por ele, e que até hoje trazem o seu nome: o Oitavário da Epifania (1835), A União do Apostolado Católico (1835), a Pia Casa de Caridade (1838) e a missão de Londres (1843). O ministério sacerdotal se tornou modelo de vida espiritual a todos os sacerdotes.

A sua extraordinária via de santidade, e a sua total dedicação à realização da missão salvífica da Igreja, fizeram com que merecesse o título de “modelo de santidade sacerdotal”.

O ano do bicentenário de ordenação sacerdotal de Vicente Pallotti nos convida a perscrutar os seus ensinamentos em relação ao sacerdócio e também a refletir qual é a sua visão sobre o mesmo. Quando nos aprofundamos em seus escritos, percebemos que sua fecundidade espiritual e eficácia apostólica estão pautadas na visão que tinha acerca do sacerdócio de Jesus Cristo, único e eterno sacerdote.

A dignidade sacerdotal não é dada ao homem como um poder humano, e muito menos pela própria iniciativa da pessoa. Para Pallotti, o sacerdote é um homem de Deus, eleito por Deus para ser a sua imagem viva e transparente no mundo e na Igreja. Portanto, o sacerdote participa da própria missão que o Pai Eterno confiou ao seu Filho Jesus. O ministério ordenado está inserido na comunhão trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

As reflexões sobre o sacerdócio, vivenciadas por Vicente Pallotti, demonstram uma espiritualidade sacerdotal palotina muito profunda e rica de referências bíblicas e teológicas. É uma espiritualidade centrada na imitação de Jesus Cristo e no amor a Deus.

Ao confrontarmos o ensinamento da Igreja e aquele apresentado por Pallotti sobre o ministério e a vida sacerdotal, encontramos tantas semelhanças a ponto de dizer que ambas são de inspiração palotina. Os documentos do Concílio Vaticano II retomam a figura do Bom Pastor, fazendo dele o ponto central da espiritualidade sacerdotal.

A figura do sacerdote que segue Jesus Bom Pastor revela, na descrição de Pallotti, uma fonte de inspiração sempre atual, mesmo que os tempos sejam outros. Os sacerdotes não são meros “atores” que encenam, recitando a parte do Pastor, mas são chamados a apascentar o povo de Deus, com caridade pastoral, que anima a sua vida espiritual e as atividades, como servidores de Cristo e dos irmãos. Nos tempos atuais, o Papa Francisco mostra o seu empenho e pede a todos para que tenham uma atitude de pastor, misturando-se com as ovelhas a ponto de adquirir o seu cheiro.

O ano do bicentenário de ordenação sacerdotal de Vicente Pallotti é graça do Senhor para redescobrirmos a riqueza espiritual do sacerdócio de Jesus Cristo, segundo a visão do nosso Fundador. Nos nossos dias, os sacerdotes se encontram diante de grandes desafios. Procura-se eliminar a presença do sacerdote da vida pública e, às vezes, de atingi-lo na sua identidade mais profunda, obscurecendo a sua dimensão divina. Vicente Pallotti nos ensina que o sacerdote é o representante do Deus vivo e o sinal visível da caridade de Cristo.

Pe. Clesio Facco SAC - Superior da Província Nossa Senhora Conquistadora (RS)

fonte: http://revistarainha.com.br/bicentenario-da-ordenacao-presbiteral-de-sao-vicente-pallotti.html