terça-feira, 29 de julho de 2014

Memória Prática Cotidiana | São Vicente Pallotti

MEMÓRIA PRÁTICA COTIDIANA PARA IMITAR A NOSSO SENHOR JESUS CRISTO NA OBSERVÂNCIA DAS SANTAS REGRAS E CONSTITUIÇÕES (OO CC III, 34-35.39; Cf. Documentos de Fundação, p. 322ss.)

Todo cristão de alguma prática de piedade gosta, em geral, da idéia de imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo. Poucos são, porém, os que efetiva e constantemente cuidam em fazê-lo. Poucos se preocupam com isso. Dentre os que o fazem, porém, quanto mais se deixam penetrar deste religioso propósito, tanto mais aspiram a imitá-lo e tanto mais cresce neles o amor para com Nosso Senhor Jesus Cristo. E, com o crescimento do amor, cresce também a confiança na graça necessária para imitá-lo e a noção da própria indignidade de alcançar tal graça, noção que, entretanto, dispõe a recebê-la sempre mais copiosa. E estes são os poucos que se esforçam por imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo.

A fim de que, entre estes poucos, se contem todos os atuais e futuros Sacerdotes, Clérigos, Coadjutores da nossa mínima Congregação, se antepõe às Regras a presente Memória Prática Cotidiana, ou antes, insiste-se em que se a tenha também em separata, em folheto à parte da Regras, para lê-la muitas vezes a todo o momento oportuno.

Chama-se MEMÓRIA: porque devemos recordar sempre a obrigação que temos de imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo;
Chama-se PRÁTICA, porque obrigação tão preciosa deve ser cumprida de fato, no pensar, no falar, no agir e principalmente na moderação dos afetos do próprio coração.  
Chama-se COTIDIANA, porque tão santa obrigação não é de um só dia, nem de um só mês, nem de um só ano, nem só dos anos de Noviciado, mas de cada dia, até a hora da morte, com perfeição e fervor crescentes, à medida que esta hora terrível vá se aproximando

Se todos os cristãos são obrigados a imitar a Cristo, com quanto maior fervor, diligência e perfeição devemos imitá-Lo nós que temos o dom de ter como Regra Fundamental da nossa mínima Congregação a própria vida de Cristo e, juntamente com tal dom na Congregação cada dia inumeráveis graças especiais para imitá-Lo? 

Nas várias circunstâncias do dia, portanto, antes de dar início aos trabalhos, devemos considerar quais seriam em tal caso ou ação os pensamentos da mente santíssima de Cristo, quais os afetos de seu coração Divino.Tendo de falar, devemos considerar quais palavras de humildade, de mansidão, de caridade, de paciência e de prudência Cristo diria. Reflitamos também como seriam moderadas ou medidas as suas palavras, nem demasiadas e nem muito poucas.

E ao servirmo-nos do alimento e da bebida, da roupa ou de qualquer outra coisa necessária para a vida, devemos considerar qual terá sido a pureza de intenção e moderação usadas por Cristo. Tenha-se a mesma atitude no momento do repouso e da recreação ou lazer. Resumidamente, em tudo devemos imitar e imaginarmos ver a Cristo, e reavivando a fé devemos recordar o Homem-Deus feito nosso exemplar, modelo e regra prática de toda nossa vida interior e externa, e confiando na sua graça onipotente devemos fazer tudo da melhor maneira possível e com a máxima diligência, atenção, fervor e humildade confiando na graça de Cristo, com amor sem limites. Dons que ele quer nos comunicar em abundância a fim de que possamos imitá-Lo. 

Pois, uma alma que crê em Jesus Cristo e que se esforça, com humildade e confiança, por imitá-lo, alcança que Ele destrua nela todas as deformidades e todas as faltas. Entra nessa alma Jesus Cristo, opera nela Jesus Cristo, continua sua vida nela Jesus Cristo. Ele vive nela e lhe aplica o mérito de suas ações santíssimas. E, desta forma, verifica-se o que diz Jesus Cristo: ‘Quem crê em mim, fará as obras que faço e fará ainda maiores que estas’ (Jo 14,12). E é realmente verdade, porque é Jesus Cristo que em nós faz tudo. Por isso, de si dizia o Apóstolo S. Paulo: ‘Eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim’ (Gl 2, 20)


Fonte: Linhas mestras da espiritualidade palotina - Pe. Marcos João Miszewski, SAC

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A imitação de Cristo e a Espiritualidade Palotina

Inúmeras vezes, ouvimos a palavra espiritualidade, mas nem sempre compreendemos o que ela quer dizer. Segundo Pe. Ludwig Münz, SAC, por espiritualidade entendemos, de modo geral, as ideias e obras espirituais e religiosas, as convicções que determinam a atitude e a conduta fundamental de um homem perante a vida. A espiritualidade inspira e dá significado à vida do homem. É certo que, no fundo, existe uma espiritualidade cristã única, que perpassa a vida de cada batizado. Ela é como a fisionomia espiritual da pessoa humana, é algo pessoal, pois, cada um possui a sua própria espiritualidade. É daí que nascem as diversas escolas de espiritualidade cristã, que são as expressões individuais da maneira própria de homens e mulheres relacionarem-se com Deus e de viverem a santidade.

Existem, portanto, diversas escolas de espiritualidade, e algumas são muito conhecidas, como: a franciscana, a carmelita, a beneditina, etc.

Nós, palotinos, também temos uma espiritualidade própria. Existe um jeito palotino de ser cristão. Sem dúvida, esse modo de seguir a Cristo é inspirado na vida e no pensamento de São Vicente Pallotti, porém não tem por objetivo fazer de nós réplicas ou miniaturas de Pallotti. Ao contrário, a finalidade da espiritualidade palotina é nos levar a imitar a vida de Cristo, como era o desejo de São Vicente Pallotti, segundo ele, bastava o Evangelho, como regra de vida: “Tendes o Evangelho e isso basta!”.

A espiritualidade palotina se fundamenta na figura de Cristo Apóstolo do Eterno Pai. No entanto, para entender esse título, é necessário compreender o que significa ser apóstolo. Apóstolo é aquele que é enviado, e quem é enviado sempre o é para realizar uma missão, e a essa missão denominamos apostolado. Cristo é o Enviado - o Apóstolo - do Eterno Pai, para salvar a humanidade, o próprio Jesus diz no Evangelho de S. João: “não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo 12, 47). Portanto, o apostolado de Cristo é a redenção dos homens. Segundo padre Marcos J. Miszewski, SAC, a espiritualidade em São Vicente Pallotti está essencialmente vinculada às pessoas, ou seja, “para melhor imitar a Cristo, precisamos ter sede de salvar almas” (Pallotti).

Afinal, o preceito da caridade ordena a todos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Portanto, somos obrigados a buscar a salvação eterna do nosso irmão como também da nossa, com todos os meios que temos ao nosso alcance. Para cumprir tal mandamento, devemos imitar a Jesus Cristo, a sua vida santíssima – que é o seu apostolado, e deve ser o modelo do apostolado de cada um de nós. A imitação de Cristo é a finalidade e o método da espiritualidade palotina. Para que todos atinjam este fim, Pallotti recomenda um método eficaz, a imitação de Cristo, por meio da Memória Prática Cotidiana. Assim ele explica em seus escritos:

“Chama-se MEMÓRIA: porque devemos recordar sempre a obrigação que temos de imitar a Nosso Senhor Jesus Cristo;
Chama-se PRÁTICA, porque a obrigação tão preciosa deve ser cumprida de fato, no pensar, no falar, no agir e principalmente na moderação dos afetos do próprio coração.
Chama-se COTIDIANA, porque tão santa obrigação não é de um só dia, nem de um só mês, nem de um só ano, [...] mas de cada dia, até a hora da morte...” (OOCC III, 34-35)

Para São Vicente Pallotti, a imitação de Cristo torna-se uma obrigação e o sustento de nossa espiritualidade. Ela é a coluna vertebral da qual todo o resto depende. Outro aspecto da nossa espiritualidade é a devoção à Maria, Rainha dos Apóstolos, e à Sagrada Família de Nazaré. Tais elementos nos conduzem a um modo palotino de ser Igreja, que, por meio da vivência comunitária e da missão, nos ajuda a encarnar em nossa vida aquilo que muitos já cantavam, quando criança: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria...”